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LIVRE-ARBÍTRIO? NÃO OBRIGADO!

  • Pedro Pamplona
  • 3 de nov. de 2015
  • 6 min de leitura

Permitam-me um assunto mais denso. Sei que causará muitos argumentos e pensamentos diferentes em nós leitores, mas quero defender a verdade em que acredito. Primeiro, quero deixar claro que nas próximas linhas falarei sobre salvação, nada além disso. Poderíamos gastar muito tempo falando sobre livre arbítrio de uma forma geral, incluindo todas as nossas ações. Alguns versículos até falarão sobre isso, mas quero manter o foco num ponto em que minha mente está mais clara, no ponto da salvação. Não compreendo 100% a maneira como Deus age e sustenta a criação, estou longe disso, todos nós estamos. Por isso quero argumentar apenas sobre aquilo que Deus deixa claro em sua palavra. Muito ainda é e será mistério para nós até a volta de Cristo, mas creio que temos uma boa base bíblica para falarmos de salvação.

Um dos maiores opositores da doutrina ou ensinamento do livre arbítrio foi Martinho Lutero. Muito antes dele o assunto foi debatido ferozmente entre Agostinho e Pelágio. Este último defendia que o homem nascia moralmente neutro e que poderia escolher livremente seguir a Deus ou não. O Pelagianismo cresceu e chegou até a época de Lutero, representado fortemente por Erasmo, que dizia: “Posso conceber o ‘livre-arbítrio’ como um poder da vontade humana, mediante o qual um homem pode aplicar-se àquelas coisas que conduzem à eterna salvação, ou pode afastar-se delas”. Foi a essa declaração que Lutero se opôs e escreveu sobre o assunto, produzindo uma grande obra teológica chamada “A Escravidão da Vontade”. Tal obra foi resumida e traduzida para o português no livro “Nascido Escravo”. É exatamente a declarações como essa de Erasmo que também quero me opor, usando a Bíblia como base.

Livre arbítrio antes da queda

Acredito que o livre arbítrio humano existiu sim, e por propósito de Deus. Na criação da terra Deus colocou homem e mulher para viverem livremente pelo Édem, inclusive colocou a tal árvore do bem e do mal, criando uma restrição divina, ou seja, pecado. Adão e Eva estavam no jardim e poderiam fazer o que quisessem, inclusive pecar. E foi o que fizeram. Adão cometeu o famoso pecado original que nos acompanha desde o gênesis até hoje, do nosso nascimento até a morte. Ali o pecado entrou na humanidade e todos foram separados da glória de Deus (Romanos 3:23). Ali o livre arbítrio foi extinto e Deus mesmo comprova isso antes do dilúvio: “E viu o SENHOR que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.” (Gênesis 6:5).

A doutrina da depravação total nada mais é do que a afirmação dessa realidade desastrosa. Que somos totalmente depravados pelo pecado. Totalmente não significa que toda a imagem e semelhança de Deus em nós foi totalmente destruída e que nada de bom ou correto pode vir do nosso caráter. A graça comum de Deus age sobre toda a humanidade, distribuindo suas bênçãos e atributos conosco (Mateus 5:45) para que ainda exista algum bem entre nós. Satanás e o pecado não têm poder para apagar por completo a criação santa de Deus. Portanto, a depravação é total no sentido que todas as áreas da nossa vida foram afetadas pelo pecado. Não fazemos nada como realmente deveríamos fazer. Nunca acreditaríamos com todo nosso entendimento em Deus, nunca o temeríamos como deveríamos, nunca o louvaríamos com todo o coração, nunca seriamos santos como Ele é santo e nunca o obedeceríamos como sua palavra nos ensina. Todos se perderam e não há ninguém que faça o bem! (Romanos 3:12)

Entender a depravação total e suas consequências é fundamental para entendermos a obra salvadora que Cristo faz por nós. A depravação nos tira o livre-arbítrio e nos leva a uma escravidão e a um destino certo, a morte (Romanos 6:23). Não podemos fazer o bem, pois fomos ensinados a fazer o mal: “Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês que estão acostumados a praticar o mal” (Jeremias 13:23). Paulo confirma isso com sua própria vida em Romanos 7:15-21:

Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio. E, se faço o que não desejo, admito que a lei é boa. Neste caso, não sou mais eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal está junto a mim.

Não sei se você já percebeu, mas a conseqüência mais sombria e preocupante da depravação total é que assim como não temos o livre-arbítrio para escolhermos o bem, não o temos para escolhermos a Deus, nem para acreditarmos no sacrifício redentor de Cristo. Nunca teríamos uma fé real e salvadora em Cristo sozinhos, mas pela graça Deus decidiu agir em nosso lugar. Graça significa exatamente isso, você não pode comprar, é preciso esperar que alguém lhe ofereça. A salvação não está a venda e nem pode ser trocada por nada que venha de nós.

A verdade em que acredito

Sei que o normal é aprendermos sobre o livre arbítrio da salvação desde pequenos, mas a Bíblia nos revela a verdade sobre o tema. Se nosso coração e decisões são pecaminosas a salvação não pode de jeito nenhum vir delas. Nenhum homem tem fé suficiente para crer em Deus e ser salvo. Nenhum homem pode entender o evangelho de forma natural: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14). Sem a ação do Espírito Santo de Deus você nunca entenderia a mensagem da cruz. Deus age em nosso lugar para nossa salvação, essa é a única maneira de abrir nossos olhos para Jesus. Como ele faz isso? Só Deus, literalmente, sabe. Essa é a eleição incondicional de Deus, por amor e bondade, para a sua glória.

Por isso não creio no livre arbítrio sobre a salvação. Porque pela graça somos salvos, mediante a fé, e isso não vem de nós, é dom de Deus (Efésios 28). Muitos creem com todo coração que a salvação não é mérito nosso, mas continuam crendo que escolhemos sozinhos a Deus. Isso é impossível, pois se nosso livre arbítrio nos salvasse, o mérito e a glória seriam nossas, e nós sabemos que não é assim. Trazendo para vida prática, percebo cada vez mais um número alto de cristão lutando pelo seu direito de “liberdade” diante de Deus, como se fossem capazes de tocar o céu com suas próprias mãos. É comum ouvir cristãos dizendo que eles escolheram a Deus e que agora Deus está servindo e abençoando sua vida por causa de sua escolha. A imagem de um cristão soberano está sendo construída em detrimento da imagem de um Deus soberano. “Eu escolhi a Deus para me salvar, mas da minha vida e fé cuido eu.”. Talvez você nunca tenha dito isso, mas vive dessa forma. Cuidado…

O livre arbítrio não tem o poder de salvar. Em sua liberdade de escolher, o homem pecador não tem escolha nenhuma a não ser pecar. Tal, “livre arbítrio” é uma realidade devastadora. Sem o poder de vencer a si próprio, nosso livre arbítrio só irá nos trazer condenação. (John Piper)

Ao Senhor pertence a salvação (Jonas 2:9). Dele eu dependo em tudo. Se ele me concedeu a honra de conhecer a cristo e ser salvo eu o servirei e o adorarei por toda minha vida. Esse é o posicionamento de um cristão que entende sua incapacidade de arbitrar sobre sua salvação. Ainda bem que o que o homem não pode, Deus pode, por causa de Jesus! Creio num Deus soberano que por bondade e decisão própria salva pecadores cegos, abrindo seus olhos para o amor irresistível de Jesus. Lutar pelo meu direito de livre arbítrio? De jeito nenhum, o único lugar que meu livre arbítrio me levaria seria para a ausência eterna de Deus. Livre arbítrio? Não, obrigado. A salvação é exatamente Deus arbitrando em nosso lugar.

A graça é gratuitamente ofertada a quem não a merece, nem é digno; não é conquistada por qualquer esforço que o melhor e mais justo dentre os homens tenha tentado empreender.”… “Como eu gostaria que os meus opositores percebessem que quando advogam a causa do “livre-arbítrio”, estão negando a Cristo. Se podemos obter graça divina mediante o nosso “livre-arbítrio”, então não temos necessidade de Cristo. E, se temos a Cristo, não precisamos do “livre–arbítrio. (Lutero no livro “Nascido Escravo”)

Soli Deo Gloria!

 
 
 

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